terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Prêmio ABD/Apeci | 21º Festcine - Festival de Curtas de Pernambuco



Prêmio ABD/Apeci | 21º Festcine - Festival de Curtas de Pernambuco:

Vivemos tempos sombrios no que diz respeito à valorização da produção audiovisual nacional. Diversos e recorrentes ataques nos colocam frente a um retrocesso político, econômico e social. São momentos em que muitas janelas se fecham e o apoio à produção audiovisual, (sobretudo a produção independente) sofre forte ataque; manifestado através de censura, encerramento de editais de incentivo à cultura e perseguição dos que pensam e produzem arte em nosso país.
Por entendermos o audiovisual enquanto uma ferramenta de luta que possibilita uma resposta a todo esse retrocesso, acreditamos na importância de festivais como o FESTCINE; onde mergulhamos, durante uma semana, em diversas narrativas de corpes não hegemônicos, de artistas que produzem em diversos lugares e nos atravessaram com as suas ideias. Parabenizamos os que tornaram possível o acontecimento desse festival.

A ABD/APECI - Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas / Associação Pernambucana de Cineastas tem como objetivo destacar as obras que atendem a uma perspectiva de representatividade política, social e criativa. Dessa maneira, o júri aqui formado por Helder Lopes, Maria Aparecida e Mônica Monteiro gostaria de premiar o documentário "A última feira", de Tharciele Santiago, por ter conseguido captar com urgência artística a realidade recente dos ambulantes realocados no entorno do Mercado de São José, a partir das vozes dos próprios sujeitos. Pela capacidade criativa e a força da sensibilidade narrativa em voltar as lentes do debate à violência contra a mulher negra e periférica, protagonizado impecavelmente por corpos também negros e periféricos, que estiveram durante os seus 19 minutos alinhados à uma notável abordagem técnica, premiamos "Rosário", de Juliana Soares e Igor Travassos.


Entendendo que outras obras também trouxeram à tela inovações técnicas, artísticas e estéticas, oferecemos menções honrosa aos documentários "Linha da Mão", de Victoria Drahomiro, que captou de maneira furtiva a intimidade das famílias que ilustraram a tela; "Marie", de Leo Tabosa, que trouxe de maneira igualmente afiada e sensível a narrativa de uma mulher trans em conflito familiar, representada por uma mulher trans, no país que mais mata travestis no mundo; nos levando à reflexão acerca da necessidade de uma representação não hegemônica em todos os espaços. Partindo da mesma necessidade, concedemos menção honrosa também ao documentário "Legado e Resistência" e ao "Brega Protesto", ambos de direção coletiva, que apontam à imponência da representação de corpos negros e periféricos da comunidade do Bode e de Caranguejo Tabaiares. Ou melhor: Caranguejo Tabaiares Resiste, por considerarmos que os dois contemplam uma abordagem que faz refletir, diverte e contesta em mesma medida. Dedicamos essas menções a todos os filmes construídos coletivamente, exibidos essa semana. Ao documentário "Elos", de Juliana Lima, em que sua visibilidade se faz urgente pelo momento em que infelizmente ouvimos gritos de intolerância e preconceito; à Ficção "AA-", de Pedro Ferreira, que combina inovações técnicas e estéticas em captação de imagens, deslocando o público a uma agonia compatível com o critério de incômodo que a arte também nos permite. Pela sensibilidade ilustrada, ressaltamos a animação "Não Moro Mais Aqui", de Laura de Araújo e o filme experimental de Ana Gabriela e Sofia de Oliveira, "Ouça o corpo falar".



Por fim, destacamos que o cinema nos possibilita uma aproximação do todo e de nós mesmos e essa só é possível a partir de uma real pluralidade representativa; que se dá, em tempos difíceis, através da resistência e do fortalecimento de narrativas que ocupem espaços historicamente negados a todos os povos.
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A lista das obras premiadas pode ser vista em - https://bit.ly/2Pv3kE9

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Júri ABD/Apeci | 21º Festcine - Festival de Curtas de Pernambuco





Começa hoje a 21ª edição do Festcine - Festival de Curtas de Pernambuco que ocupa as telas do Cinema São Luiz até o dia 14 de dezembro.

O festival é realizado pelo Governo de Pernambuco e a Prefeitura do Recife, e tem o objetivo de incentivar a produção audiovisual pernambucana. Dos 49 filmes selecionados, participam realizadores do litoral ao sertão, representando cidades como Arcoverde, Buíque, Carpina, Caruaru, Igarassu, Jaboatão dos Guararapes, Jatobá, Olinda, Orobó, Petrolândia, Petrolina, Recife e Tacaratu.
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O júri da ABD/Apeci escalado para esta edição do festival conta com a participação de:

Helder Lopes
Tem 29 anos e é jornalista e documentarista. Escreveu, produziu e dirigiu dois longa-metragem de guerrilha, “Onildo Almeida: groove man” (2017) e Pipoca Moderna (2019), totalmente independentes, que integram a sua trilogia em curso sobre grandes compositores populares do agreste. Atua ainda como assistente de direção e fotógrafo. Antes de se dedicar ao cinema, trabalhou em redação de jornais e como revisor de livros.

Maria Aparecida
Estudante, componho a equipe da Mostra Pajeú de Cinema, realizada em Afogados da Ingazeira desde 2016 como produção e Mídias Sociais na última edição em 2019. Produção no Sertão Alternativo, também realizado em Afogados da Ingazeira. Produção e curadoria no Cineclube do Beco desde março de 2019.

Mônica Monteiro
Artista visual, diretora dos filmes Sítio Ágatha: Laços Coletivos de Amor e Resistência e Capoeira e Educação: uma ponte para a transformação(em fase de montagem). É professora de educação artística, educadora popular com ênfase em artes visuais, graduanda do bacharelado em ciências sociais, UFRPE.
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Para conferir a programação completa do festival, acessem https://bit.ly/2LCjZUc

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Chamada | Reunião Conselho Consultivo do Audiovisual



A ABD/Apeci convoca as/os profissionais do audiovisual pernambucano para a apresentação dos termos dois editais do Funcultura Audiovisual (2018-2019 / 2019-2020). O resultado do redesenho dos editais foi construído através de GT criado a partir do Conselho Consultivo do Audiovisual. 

Com um ano de atraso e abrindo mão de R$ 15 milhões dos arranjos regionais da Ancine, o Governo de Pernambuco confirmou o lançamento dos editais do Funcultura Audiovisual (2018-2019 / 2019-2020) nos dias 11 e 12 de dezembro. Durante a reunião do Conselho Consultivo do Audiovisual o GT irá apresentar as propostas de arranjos para os dois editais, a serem aprovadas pelo Conselho Deliberativo. 

A reunião do Conselho Consultivo do Audiovisual acontece nesta sexta (6) às 9h no Espaço Parságada.

Compareçam!
Diretoria Colegiada ABD/Apeci

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Assembleia sobre lançamento do edital Funcultura Audiovisual



Com um ano de atraso e abrindo mão de R$ 15 milhões dos arranjos regionais da Ancine, o Governo de Pernambuco confirmou o lançamento dos editais do Funcultura Audiovisual (2018-2019 / 2019-2020) nos dias 11 e 12 de dezembro, a partir do resultado do GT criado para pensar o redesenho dos editais, o qual se comprometeu também em não postergar a previsão de lançamento.

Diante deste cenário, convocamos as/os profissionais do audiovisual pernambucano para uma escuta que vai subvencionar, pela parte da ABD/Apeci, o Grupo de Trabalho criado junto a outras entidades representativas do Conselho Consultivo do Audiovisual, para construir os termos dos dois editais.

Próxima quarta-feira, 27 de novembro a partir de 18h no Coletivo Sexto Andar do Edf. Pernambuco.

Compareçam!

sábado, 23 de novembro de 2019

Premiação Júri ABD/Apeci | 7º Recifest - Festival da Diversidade Sexual e de Gênero



                                Foto: Arquivo Recifest


Estamos vivendo tempos nebulosos, onde sofremos diversos tipos de retrocessos na construção ideológica, econômica e política de nosso País. O governo federal parece estar empenhado em destituir todas as leis que nos protegem, todas as iniciativas que nos apóiam, todas as janelas de projeção que possuímos e a cultura aparenta ser um de seus principais alvos. Censurando filmes em mostras, acabando com editais de incentivo a cultura, criminalizando e perseguindo ativistas. Até então, nossa geração nunca havia se deparado com esses retrocessos. Lgbtqi+, mulheres, povos originários, negres, comunidades e povos tidos como minorias sociais, nesse contexto são as que mais sentem. No entanto, resistimos criando novos horizontes e narrativas que contradizem a lógica imposta a nós.

Talvez eles tenham tanta consciência quanto nós de que os meios de cultura e educação são nossa principal arma de contra-ataque a esses retrocessos. Talvez eles saibam tão bem quanto a gente, que a revolução será negra, feminista, indígena, sapatão, bicha, trans e travesti. Que quando temos consciência de nossas subjetividades, das questões que nos atravessam, possuímos também o poder de questionar o que nos acontece, porque acontece, e almejar aonde e qual lugar desejamos ocupar. E isso é uma arma bastante poderosa, pois almejamos ocupar todos os lugares.


O audiovisual se mostra como uma importante ferramenta nessa luta, pois através dele conseguimos contar nossas próprias narrativas. Espaços como o Recifest são de extrema importância, pois resistem a esse momento de cortes de investimentos e de perseguição, e são uma janela de projeção para compartilhar nossas vivências, questões e criar redes de fortalecimento.


A ABD/APECI - Associação Brasileira de Documentaristas e Curta Metragistas / Associação Pernambucana de Cineastas e o júri aqui formado por Lilit BandeiraLaíse Queiroz e Thiago das Mercês tem como papel dentro do Festival apontar o filme que se destaca a partir da representatividade social e política e reconhecer a criatividade da obra.


Pela capacidade narrativa concisa, direta e sensível, pela potência que é alcançada quando conseguimos expor nossas maiores questões buscando fortalecer os nossos, pela força da produção feita de forma independente em meio a tanto retrocesso político, decidimos oferecer uma menção honrosa para o filme pernambucano Cinema Contemporâneo, de Felipe André Silva.


Trazendo sensibilidade ao retratar a figura feminina lésbica preta de maneira tão forte e combativa, diante de contextos tão agressivos e repressores, e que atingem principalmente a comunidade negra no Brasil. E trazendo inovações técnicas e estéticas que ajudam no aprofundamento da narrativa e a entender o subconsciente das personagens, sem apresentar de maneira obvia as questões que atravessam suas existências. Conseguindo não só manter a atenção do público até o fim, como criando empatia pelas personagens e surpreendendo a todos no final, oferecemos uma menção honrosa para o filme paulista A Felicidade Delas, de Carol Rodrigues.


Pela resistência de bixas pretas e travestis num contexto tão duro e conservador, um filme que através do fascínio nos apresenta uma luta que atravessa a identidade de gênero e o próprio lugar do gênero numa data cívica de grande simbolismo para o país. Por ser fundamental na luta pela identidade cultural da população nordestina LGBTQI+, oferecemos uma menção honrosa a todos os viados e travestis de fanfarra, pelo lindo filme baiano balizando em 2 de julho de Fabíola Aquino e Marcio Lima.


Considerando a importância de fomentar o debate interseccional, trazendo a classe e a raça como pontos fundamentais para se entender as individualidades e a complexidade das questões identitárias, por trazer todas essas questões navegando pelo campo do sensível, da empatia e do afeto, pela potência política e pelo fortalecimento de mulheres lésbicas negras e periféricas. Uma outra história pode ser contada para todas e todes nós, corpos dissidentes, pois é nossa a potência de através do afeto, resistir. O Prêmio de melhor filme pela ABD/APECI vai para Minha história é outra, de Mariana Campos.


Seguiremos firmes e fortes entendendo a cultura como parte fundamental da formação identitária, não por acaso atacada diretamente pelo governo. Seguiremos produzindo, fortalecendo e valorizando as produções lgbtqia+, pretas, indígenas, periféricas, sertanejas, etc, e lutando pela construção da nossa própria narrativa. De um país mais justo e prospero para todes. 


Recife, 22 de novembro de 2019.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Júri ABD/Apeci | 7º Recifest - Festival da Diversidade Sexual e de Gênero



A 7ª edição do Recifest - Festival da Diversidade Sexual e de Gênero teve início ontem (20.11) e segue até amanhã (22.11) no Cinema São Luiz em Recife, e que neste ano, diante do cenário de retrocesso no país, e sem quaisquer recursos, convida a todas para, juntas, defendermos o cinema LGBTQ nacional. Um dos cinemas mais inventivos atualmente praticados no Brasil. Uma arte que mina sua sociedade conservadora na espinha dorsal: a heternormatividade. Não há experimentação, não há inovação, não há cinema brasileiro se não houver cinema LGBTQ brasileiro.

O júri da ABD/Apeci para esta edição do festival é formado por:


Laíse Queiroz, formada em Comunicação Social/Rádio e TV pela Universidade Federal de Pernambuco, atua como montadora no mercado audiovisual pernambucano. Em seu currículo estão filmes, programas de TV e publicidade, e tem no cinema documental seu maior foco de trabalho e pesquisa. Trabalhou em séries como Nosso Ofício, dirigida por Tuca Siqueira, e Pé na Rua, dirigida por Ivan Moraes Filho. É integrante do MAPE - Mulheres no Audiovisual PE. Vê o cinema como uma arma de transformação social. 
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Lilit Bandeira, 30 anos, travesti Paraibana residente no Recife desde 2017, estudante da graduação em Cinema e Audiovisual na Universidade Federal de Pernambuco. Seu primeiro trabalho como realizadora foi o curta independente Transborgs (http://instagram.com/transborgs) exibido na Mostra Absurda no 12º Festival de cinema de Triunfo – PE (2019), Pesquisa sound design, fotografia, montagem e experiências audiovisuais a partir de live performances que juntam projeções, corpo performance e música eletrônica, atuando como DJ e VJ. No cinema, trabalhou como maquiadora e produtora e objetos no curta Sombra de Fernanda Siqueira (2018) e como maquiadora e fotógrafa Still no curta O fio de Anti Ribeiro (2018). 
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Thiago Das Mercês, Artista visual, ator e realizador independente pernambucano, bacharel em Cinema e Audiovisual pela UFPE. Investiga e dirige produções de vídeos de caráter experimental para o cenário musical recifense. Gay, atuante em movimentos sociais, de luta pela democratização do acesso a cultura e educação. Membro da atual Diretoria Colegiado da ABD/Apeci - PE.
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A programação completa do festival pode ser vista em - https://casadecinemape.wixsite.com/recifest/programacao

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

ASSEMBLEIA EXTRAORDINÁRIA ABD/Apeci | Edital Funcultura Audiovisual




Estamos entrando numa semana decisiva para definir os rumos do Edital do Funcultura Audiovisual. Diante do anúncio da Fundarpe de que vai lançar dois editais ainda este ano, sem consultar a categoria sobre a forma de distribuir os recursos e encaminhar as ações, convocamos as(os) profissionais do audiovisual pernambucano para participar da assembleia extraordinária da ABD/Apeci na próxima terça-feira. No encontro, vamos analisar os cenários atualmente postos para o edital e fechar uma posição da entidade para a próxima reunião do Conselho Consultivo do Audiovisual, que acontecerá na quarta-feira. É fundamental a participação de todes nos dois encontros (o conselho consultivo também é aberto a toda a categoria, mas apenas conselheiros e conselheiras tem direito a voto) para lutarmos pela preservação de direitos e de uma política pública construída nos últimos anos e hoje fortemente ameaçada. 


ASSEMBLEIA EXTRAORDINÁRIA ABD/APECI
19.11 (terça-feira) | 18h
Sexto Andar - Edf Pernambuco
(Av. Dantas Barreto, 324 - Santo Antonio)


REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO DO AUDIOVISUAL
20.11 (quarta-feira) | 14h30
Escola Técnica Estadual de Criatividade Musical 
(Rua da Aurora, 439 - Boa Vista)

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Nota de Resposta à Secretaria de Cultura de Pernambuco



Nota de resposta à Secretaria de Cultura de Pernambuco

Governo de Pernambuco incorre em ilegalidade ao não publicar edital do Funcultura Audiovisual

No dia 30 de outubro, nós, trabalhadoras e trabalhadores do audiovisual pernambucano, divulgamos uma carta aberta à sociedade para denunciar o descaso do Governo do Estado com o Fundo de Incentivo à Cultura – Funcultura. 
A carta pode ser lida na íntegra em:  https://bit.ly/2KgAtQY

Reivindicamos um direito previsto em lei: a aplicação dos recursos disponíveis no fomento à atividade audiovisual. Além disso, considerando que o edital deveria ter sido lançado até o dia 31 de dezembro de 2018, solicitamos que o repasse dos recursos estaduais seja feito de forma integral (R$ 9,28 milhões) para que o edital cumpra a exigência da Ancine e receba os R$ 15 milhões do Fundo Setorial do Audiovisual - FSA. No entanto, a Secretaria de Cultura de Pernambuco/Fundarpe divulgou uma nota na qual alega "dificuldades" para cumprir nossa reivindicação. 

O governo estadual transfere a responsabilidade aos órgãos federais pelo não lançamento do edital. No entanto, editais como o do estado da Bahia e da cidade de Belo Horizonte/MG se adequaram às normas exigidas pela Ancine e foram lançados. É inadmissível que o Governo do Estado de Pernambuco não resolva esse impasse, tendo um dos maiores Fundos de Incentivo à Cultura do país, desestabilizando todo um setor cujo trabalho é reconhecido nacional e internacionalmente através de suas obras.

O cenário que se desenha é a possibilidade de que não haja edital este ano novamente, somando, portanto, dois anos de lapso. O atraso no repasse prejudica não só a categoria dos trabalhadores do audiovisual, mas a cadeia produtiva do estado, já que na realização de qualquer produto audiovisual há contratação do serviço de restaurantes, hospedagem, transporte, entre outros, o que gera emprego e movimenta uma economia que se encontra em recessão. 

Reforçamos que, ao não executar o edital, com ou sem integralização, o Governo de Pernambuco está infringindo a lei. A regularidade anual do edital está prevista na lei 15.307/14, a Lei do Audiovisual Pernambucano, no artigo 14, que determina que o "Funcultura organizará e realizará, com periodicidade nunca superior a 1 (um) ano, o Edital do Audiovisual". E o que observamos é que o Governo do Estado vem usando a Ancine, órgão que passa por uma crise institucional, para desviar o foco de sua responsabilidade.  

As entidades do audiovisual pernambucano, através do Conselho Consultivo do Audiovisual, vêm acompanhando o tema em inúmeras reuniões desde o final de 2018. Hoje, quase dois anos depois do último edital lançado, a secretaria de Cultura/Fundarpe diz que vem realizando as negociações com o "apoio da categoria do audiovisual", novamente para se esquivar de sua responsabilidade. Nós não gerimos os recursos do Funcultura. Não temos sequer poder deliberativo sobre o tema.  

O momento que vivemos enquanto país exige ações corajosas! Se o Governo do Estado respeita a cultura como propaga em seu discurso, então, que se instaure um processo transparente e participativo para superar essas alegadas dificuldades. 

A atual interrupção é um ato que carrega desdobramentos nefastos. Nós sabemos o que acontece quando políticas públicas eficazes são descontinuadas: abre-se um vácuo democrático. Não estamos apenas defendendo uma classe artística ou um grupo social. Estamos defendendo aquilo que nos fortalece enquanto comunidade: a nossa cultura!


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Assinam:

Sociedade Civil do Conselho Consultivo do Audiovisual de Pernambuco formada pelas entidades representativas:

* ABCA - Associação Brasileira de Cinema de Animação
* ABD/Apeci - Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas de Pernambuco / Associação Pernambucana de Cineastas
* STIC-PE - Sindicato Interestadual dos Trabalhadores da Industria Cinematográfica e do Audiovisual em Pernambuco
* Representações regionalizadas do setor (Zona da Mata, Agreste, Sertão)

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Carta do Júri ABD/Apeci - XII Janela Internacional de Cinema do Recife



Carta do Júri ABD/Apeci - XII Janela Internacional de Cinema do Recife
















No Brasil, o ano de 2019 se mostra uma perversa movediça política que destitui cotidianamente garantias individuais e coletivas de cada um de nós aqui reunidos, trabalhadores da cultura e do audiovisual. O esfacelamento da política cultural através da extinção do Ministério da Cultura, a censura de obras, a insegurança sobre a manutenção dos acordos da ANCINE, a manipulação política sobre as cadeiras do onselho Superior de Cinema são alguns dos ataques que sofremos.

Nesse cenário, é da maior importância lutarmos coletivamente pela manutenção dos espaços de produção e exibição que se transformam em espaços de luta pelas garantias básicas de dignidade ao nosso pleno exercício profissional e por uma política cultural democrática e popular.

A mostra competitiva de curtas brasileiros deste ano reforça a necessidade de reconhecer e dar suporte às obras audiovisuais dos povos originários, infelizmente pouco representados no festival; das pretas e pretos; das travestis, transexuais e todos aqueles que não se conformam as normativas do cis-tema, como fundamental para criar novas leis e garantir uma mudança de rota em direção à construção política, cultural e social do país que queremos: democrático, popular, diverso e inclusivo.

A ABD/APECI - Associação Brasileira de Documentaristas e Curta Metragistas / Associação Pernambucana de Cineastas e o júri aqui formado por Danielle Valentim, Juliana Gleymir e Ícaro Muniz tem como papel dentro do Festival apontar o filme que se destaca a partir da representatividade social e política e reconhecer a criatividade da obra.

Por expressar o ponto de vista das milhares de pessoas negras que sofrem com as perversas práticas punitivas do Estado; contra o genocídio da população negra e pelo abolicionismo carcerário, a primeira menção honrosa vai para: Sete dias em Maio, de Affonso Uchoa.

Pela necessidade de reafirmar as relações de afeto e sua importância, inclusive política, pela qualidade técnica e estética propondo formas criativas de cinematografia, a segunda menção honrosa vai para: Looping, de Maick Hannder.

O curta Ilhas de Calor, do alagoano Ulisses Arthur, é pautado por críticas à estrutura social que atropela o cidadão em diversos aspectos: a falta de acesso à educação e qualidade da mesma; o descaso com o ofício dos professores; a construção de uma masculinidade perversa que pauta formação de jovens e os insistia à violência contra as mulheres e os homosexuais, etc. Porém em meio a tantas críticas o filme traz uma mensagem positiva construída através do afeto e da união que são apresentados como ingredientes essenciais à transformação social.

Por um cinema protagonizado por travestis pretas e macumbeiras que nos concedem o êxtase de olhar na tela do cinema a potência da força criativa e de transformação social do audiovisual através dos mapas de liberdade traçados pelas experiências de vida das travestis, pela resistência das religiões de matriz africana que estão sob ataque, pela contravenção das formas de fazer cinema, contra as hierarquias racistas, misóginas e classistas das canonizações cinematográficas, pela visibilidade e vida de todas às travestis, o prêmio de melhor filme vai para: Para todas as moças, da Castiel Vitorino.

Por fim, gostaríamos de destacar a importância da união da nossa cadeia produtiva como um todo, que vai dos produtores independentes do agreste e do sertão pernambucano, passa pelos jovens pretos e pretas das periferias de Recife e chega às grandes produções que levam o nome do nosso cinema pro mundo. É de extrema importância entender as nossa especificidades e diferenças e nos fortalecer nelas para assim, criar uma forma artística plural, democrática, popular e igualitária de se fazer cinema! Avancemos!