quinta-feira, 28 de maio de 2020

NOTA





A ABD/Apeci lamenta a perda do cineasta e abdista Leopoldo Nunes, pessoa de extrema importância para a história da associação, com carreira marcante na área pública do setor, responsável pela existência de uma associação forte e bem representada em todos os estados do Brasil, por guardar sua memória e estimular o trabalho coletivo das entidades como força motriz para uma política pública forte, eficiente e conectada à realidade do segmento. Fazemos das palavras de Solange Lima, produtora e ex-presidente da ABD Nacional, que resume bem a trajetória de Leopoldo Nunes, demonstrando seu legado irrefutável para aqueles que fazem ou gostam do cinema nacional.
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MAIS UMA ESTRELA SOBE!!!

Leo um homem que tinha as dores do Brasil, era de Santa Fé do Sul/SP, onde foi sepultado.
Engajado na política, ele começou a militância ainda aos 18 anos, quando ingressou no movimento cineclubista de Ribeirão Preto. Acumula duas passagens pela presidência da Associação de Documentaristas de São Paulo (ABD-SP) e outras duas pela presidência da ABD Nacional. O cineasta foi também diretor do Congresso Brasileiro de Cinema (no biênio 2001/2002) e membro da Comissão Nacional de Cinema (no período de 1999 a 2002). 

Em 1988, ingressou da Escuela Internacional de Cine y TV, de San Antonio de Los Baños (Cuba), e, no ano seguinte, na ECA/USP, onde fez seu primeiro filme, “A Idade do Lixo”. Seu trabalho mais conhecido é “O Profeta das Cores”, vencedor do prêmio de melhor documentário no Festival de Brasília de 1995. Seu mais recente filme é “A Lata”, eleito melhor curta-metragem no FAM – Florianópolis Audiovisual Mercosul 2004, e vencedor do Prêmio ANDI no Festival de Brasília 2003.

Em 2003, Lula é eleito presidente do Brasil. Leopoldo Nunes articula, junto a representantes do setor cinematográfico, o nome do cineasta Orlando Senna para Secretário do Audiovisual, de quem Leopoldo Nunes foi  Chefe de Gabinete. Em seguida, mais abdistas vão tomando seu assentos na SAV, ANCINE, CTAV, etc, e políticas criadas pelo setor passam ser implantadas no Governo Lula na gestão Gil/Juca tendo Orlando Senna a frente da Secretaria do Audiovisual.

Em janeiro de 2003, em Tiradentes, foi o momento da primeira grande reunião com a classe do audiovisual com Leopoldo Nunes já na SAV, do outro lado da mesa, ele pensa com o setor inovações para o audiovisual, a começar pelas comissões  dos editais, incluindo jurados do Pará a SP. Também em Tiradentes, ele, com Marcelo Laffitte e Guigo Pádua, articula o encontro dos 30 anos das ABDs em Salvador, o qual Maria do Rosário escreve o livro ABD 30 ANOS.

Em seguida, ele articula o grande encontro dos Cineclubistas em Brasília, um encontro histórico, do retorno dos Cineclube como protagonista das visibilidade dos nossos filmes.

Assim, para o nosso setor, iniciou a primeira revolução do governo Lula no audiovisual.  Leopoldo sai da SAV para assumir a diretoria de patrocínios da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica do Governo Federal (Secom). Lá passou a ser responsável por coordenar as políticas de patrocínios do governo, junto aos ministérios e às empresas estatais ou às quais o Estado tem maioria acionária. Pulverizou verbas, inclui políticas participativas junto ao Orlando e os colegas de trabalho.

Posteriormente vai para ANCINE através de uma votação histórica quando, em articulação da classe com senadores de todo Pais, é aprovado na sabatina por unanimidade.

Na ANICNE, no pouco tempo que passou por lá, cria a  IN que legaliza e reconhece a atividade Cinecubista a frente da ANCINE.

Em seguida vai para a TV Brasil, novamente com Orlando Senna, repetindo a duplas da que iniciou na SAV.

Por ultimo torna-se Secretário do audiovisual na gestão Marta Suplicy.

A Política foi muito cruel com Leopoldo, um cara honesto, que deu a vida pela cultura, em específico ao audiovisual. Leo marcou uma época, uma geração, com a sua inteligência ímpar, criou, revolucionou e incomodou muita gente.

Atualmente, Leopoldo aguardava para assumir um cargo de assessor de cultura no mandato do deputado estadual Mário Maurici (PT/SP). 

Mas outra vez sua história foi desviada e ontem ele partiu para outra dimensão, e tenho certeza que de onde estiver o Leo, como carinhosamente o chamávamos, vai encontra Marcelo Laffitti, D. Edina Fujii, Geraldo Moraes, o meu Gê, e tantos outros que não aguentaram ficar por aqui nesse mundo tão conturbado, e lá farão outra revolução em outra dimensão.

Vai em paz Leo, aqui você deixa sua semente através dos seus filhos, Diana Nunes, Francisco Brasileiro e Lucia Nunes.

Seja feliz em outra galáxia com os amigos que você vai reencontrar no universo paralelo eles lhe acolherão numa grande festa dos homens e mulheres que lutaram pela igualdade, pela descentralização e pela visibilidade co cinema brasileiro, do Oiapoque ao Chuí. 

De nós, amigos, receba nossa eterna gratidão pela revolução que provocastes aqui na terra. Nos não seremos os mesmos depois que acompanhamos sua luta, angústia e agonia.

Siga em direção a Luz. 
26.05.2020

Texto de Solange Lima, Produtora da Araçá Filmes, BA; ex-presidente da ABD
Foto: Arquivo Facebook