domingo, 9 de dezembro de 2018

Premiação júri ABD/Apeci - 6º Recifest - Festival de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero


A ABD-PE/Apeci (Associação Brasileira de Documentaristas e Curta metragistas de Pernambuco / Associação Pernambuca de Cineastas) representada por Marco Bonachela, membro da diretoria colegiada da associação; Mariana Souza, estudante, curadora e crítica de cinema; e Sophia William, multiartista, preparadora de elenco e produtora cultural; analisaram as sessões competitivas das mostras pernambucana e nacional do 6º Recifest, com a missão de premiar produções que apresentassem um viés político e social que dialogassem com o contexto atual de nosso país.

Primeiramente, destacamos, antes dos premiados em si, a visível preocupação da equipe de curadoria do evento em fazer deste um festival DE FATO condizente com sua proposta de diversidade sexual e de gênero.
O corpo, primeiro de todos os territórios, é também o primeiro a ser demarcado. As demarcações dizem a quem esse lugar pertence e quem é ou não bem vindo a ele. Mas o corpo, inevitavelmente, está sempre situado: a terra que esses corpos habitam também é um campo em disputa. Ao colocar o corpo trans em luta pelo direito a moradia, é possível, além de discutir a existência trans, pautar questões político-sociais relevantes e urgentes no Brasil. Fornecer a outros corpos o direito de escolha no destino de uma narrativa, é romper o retrato histórico no qual esses sujeitos nunca tem poder de decisão: restitui-se, mesmo que ficcionalmente, o controle sobre elas mesmas. Por transpor a ideia de territorialidade e autonomia, numa forma documental inovadora e intrigante, o júri premia “Estamos Todos Aqui”, de Chico Santos e Rafael Mellim.

Contar uma história sem terceirizar bandeiras é uma das saídas possíveis ao ciclo de vaziez e lugares comuns aonde o cinema insere algumas representações. A ficcionalização de novas possibilidades reflete também a inserção de outros sujeitos enquanto criadorxs e protagonistas de suas próprias histórias. “Preta, pobre, favelada, MC e sapatão”, um corpo ciente e em estado manifesto no mundo. A esse corpo, o afeto e a expressão de si, seriam facilmente negados. Por reforçar a possibilidade de poder e por possibilitar a partilha de afeto e arte para um sujeito histórico marginalizado, o júri não poderia deixar de premiar também “MC Jess”, de Carla Villa-Lobos.

A partilha de afeto é privilégio. A quem esse privilégio serve? Num contexto de retorno ao território original, nos encontramos com os fantasmas e feridas do passado. Encará-las é um ato de coragem. Encontrar amor e compreensão deveria ser direito e não privilégio. Por retratar de maneira sensível e esperançosa as relações familiares de pessoas transsexuais e a retomada do que lhe é negado, o júri da ABD-PE/Apeci concede menção honrosa ao filme “Jéssika”, de Galba Gogóia.

Viver sendo quem se é, é um ato de extrema resistência. Em lugares afastados dos grandes centros urbanos, ainda mais. Por se fazer uma força que move e presentificar sua existência política no interior de uma cidade do nordeste, o júri – entre os filmes pernambucanos – premia como melhor curta “Desyrrê”, de direção coletiva.

Recife, 24 de novembro de 2018.

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